Como não existe imprensa sem as próprias redes sociais, e nenhum jornal, portal ou emissora pode impedir a reprodução de parte do seu noticiário em perfis alheios, temos uma situação esdrúxula, para dizer o mínimo, de cerceamento : como Jair Bolsonaro pode ser preso se uma fala sua for parar nas redes, ele não concederá mais entrevistas, inclusive coletivas, e a imprensa não o ouvirá mais por medo de ser sancionada também por Alexandre de Moraes.
O ex-presidente é, portanto, alvo de censura total, até retroativa, visto que as retransmissões das suas falas passadas estão proibidas. Os jornais, portais e emissoras, por sua vez, estão obrigados a praticar a autocensura. É de um autoritarismo não menos do que perfeito. Chapeau.
O ministro acha todas suas ordens de uma obviedade ululante, mas não há nada de banal em ferir a Constituição, ainda que os atentados a ela venham se sucedendo com frequência alarmante, infelizmente não para todos.
Sem ter prisão decretada, Jair Bolsonaro não poderia ser silenciado de forma nenhuma. Aliás, o precedente aberto pelo STF em relação a Lula, em 2019, daria o direito ao ex-presidente de dar entrevistas até se já estivesse atrás das grades.
Protegidos pela liberdade de imprensa, jornais, portais e emissoras não poderiam sofrer restrições em entrevistas, reportagens ou artigos de opinião veiculados em quaisquer plataformas.
Com direito a informações relevantes para o destino do país, os cidadãos deveriam poder saber o que pensa um ex-presidente da República acusado de tramar um golpe de Estado e que se tornou réu em processos que o levarão à prisão. É de total interesse público.
Alexandre de Moraes mandou Jair Bolsonaro calar a boca, calou a boca da imprensa e tapou os ouvidos de todos os brasileiros.
Metrópoles
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